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neste momento

instalação, desenho e performance

(exposição individual, Uma Certa Falta de Coerência, Porto, 2009)

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(texto da performance entregue ao público)





neste momento



1. imaginem que a um dado momento a Susana Chiocca vos convida a todos a entrar de novo no espaço onde se encontra a presente exposição. Começa por calçar as luvas e, a seu tempo, desloca vários elementos para o passeio em frente à porta: o cimento, a areia, o balde com a água, os tijolos, a colher de trolha e o plástico. (As latas de graffiti e o martelo ficam no chão.) No passeio, estende o plástico preto no chão e despeja o saco de areia em cima, corta com a colher o topo do monte agora formado e faz uma espécie de sulco onde coloca primeiro o cimento e depois a água. Mistura os vários elementos. O cimento está pronto a ser utilizado. Uma primeira camada de cimento é colocada, na pedra mármore da ombreira da porta, e sobre aquela o primeiro tijolo. Bate com o cabo da colher para assentar melhor, coloca uma camada na lateral do tijolo e vem um segundo. Bate novamente, aplica outra porção de cimento na lateral deste e um terceiro tem de ser partido com a colher. Então retira mais um tijolo da primeira pilha de tijolos do seu lado esquerdo e coloca-o em cima do que já tinha servindo aquele de suporte. Tenta quebrá-lo com a colher lateralmente mas não consegue fazê-lo muito bem. O tijolo ainda é grande demais para o espaço que lhe compete. Repete a acção. Agora ficou pequeno, mas preenche o vazio com cimento. Antes de colocar uma camada de cimento em cima dos tijolos, passa uma esponja com água para o cimento agarrar melhor, como a aconselharam. Chiocca prossegue a sua acção pausada e concentrada no acto de colocar tijolo sobre tijolo, cimento sobre cimento. A improvisação e as dificuldades são visíveis a cada momento. Alguns de vocês começam a impacientar-se e surgem questões. Começa vagarosamente a constituir-se um muro na ombreira da porta e, de repente, apenas as luvas e a colher são visíveis a elevarem o muro. Os que chegaram depois da performance começar, e que por isso se encontram na rua, percebem o aumento do cansaço e o peso de cada um dos últimos tijolos. Finalmente, é colocado o último tijolo no topo da ombreira.
 

A acção continua e ramifica-se. No espaço, o cúmplice agarra na lata de graffiti azul após uns segundos e inscreve sobre a nova parede o seguinte:



“Um espectador não deve nunca tomar parte na peça. ​

Quando uma pessoa vai ao aquário não mata as serpentes do mar ​

nem os ratos da água, nem os peixes cobertos de lepra, ​

passa os olhos pelos vidros e aprende.” 

(Garcia Lorca)



Entretanto Chiocca, na rua, retira a água ainda no balde, coloca no seu interior a colher e as luvas. O plástico, dobra-o com cuidado com os restos de cimento para o colocar no lixo. Os restos dos tijolos ficarão para mais tarde. No percurso que a conduz a casa, o balde que leva consigo não passa despercebido aos olhares estranhos daqueles com quem se vai cruzando. As botas de montanha pesam-lhe mais do que nunca e o caminho parece mais longo do que o habitual. Por fim abre a porta de sua casa e coloca o balde ao lado da cadeira da entrada e tudo o mais – gorro, saco e casaco para cima da mesma. Vai à cozinha e serve-se de um copo de água.
Entretanto, no espaço da exposição deixou um martelo, para o caso de ser necessário. Afinal alguém teve de avançar para de novo partir.





2. A necessidade da acção neste momento, fechar um espaço ainda que em imaginário e de ajuntar o público, propõe um questionamento em redor da exposição em si, da sua relação com os que aí se encontram, da relação entre uns e outros e do inequívoco paradoxo entre o excerto de Garcia Lorca e a acção de um qualquer espectador. Fecha-se sobre si mesma pensando numa abertura através do possível pensamento e questionamento daqueles que nela se encontram; um deixar acontecer de um retorno de si para si e do outro para outrem. Aqui não um espaço devoluto, mas um espaço de (que?) espera, de demora, de atenção.



neste momento, acção realizada no dia 16 de Janeiro de 2009

A performance tem o mesmo título da exposição Neste momento, a qual consistia numa folha de papel entregue ao público com a descrição da performance que seria construida individualmente por cada um, fazendo-se referência aos vários objectos espalhados à entrada da exposição (vd. texto em baixo).
Cabe ao espectador o querer, ler, edificar. Cabe ao espectador agora questionar , ver e atender.

O trabalho s/ título, cujas linhas são escavadas na parede, rebuscam o rizoma e a pele.
A tinta enquanto revestimento e protecção. O zoom da pele e a frase de Nancy que remete à Expeausition de 2004 “a pele como lugares de acontecimentos de existência” e por outra, o sem princípio nem fim rizomatico de Deleuze e Guatarri até às estruturas de raízes ou de troncos de árvores.
O que de mais forte se imprime, o que nos chega ao de leve; tudo se liga, os acontecimentos sentidos, impressos nessa pele que agora é a parede.



De que maneira… trata-se de um pequeno texto escrito a pioneses nos placares de madeira perfurada. A melhor maneira de o dizer foi escrevendo: “de que maneira dizer o silêncio/ de que maneira dizer a ruína/ de que maneira dizer a falha/ de que maneira dizer a falta?”.
Este trabalho, faz também a ponte para dois dos trabalhos que se seguem inseridos na noção de jogo, de alguma forma pode remeter para os quadros de rede brancos com as peças coloridas com que desenhávamos e refazíamos os desenhos quando éramos pequenos.



Construção, conjuga dois elementos a areia e os berlindes. A areia adquire um carácter mais ambíguo. Por um lado, remete à construção das fantasias da infância, à praia, aos castelos, e aqui também à falência dessas construções tornadas realidade, pela acção do mar ou de qualquer outro elemento. Por outra, utiliza-se um balde de obras, e o saco de areia que serve de suporte a toda a instalação, remete para a construção de algo mais cimentado, aparentemente mais forte como as casas, a elevação dos mais distintos edifícios, a elevação de muros que separam, afastam, isolam. De novo o jogo, com os berlindes, de novo a fortificação de algo perfeito como uma esfera, brilhante, que deixa o rasto do que já foi…



s/título (às cegas), é o trabalho que se encontra numa passagem. Uma luz ilumina a parede que possui uma grande plasticidade, os desenhos mínusculos a grafite e pintados com canetas de bico de filtro, passam facilmente despercebicos a um simples olhar.
Entre os desenhos estabelecem-se relações são vendas que se transformam em laços, coroas e roupagens que protegem os olhos que não querem ver, são uns quase corpos; será necessário fechar os olhos para ver melhor?



Com Mapa-mundi (A:“isto é meu!” X:“e isto é meu!”), pretende-se rebuscar um jogo de infância e perceber de que forma se pode transferir determinados conceitos para a actualidade. Aqui é de novo o poder e a possessão que estão presentes. A tua área de posse aumenta e assim também a tua área de influência e de poder. É como se segundo essa lógica alguém pudesse comprar o que quiser e apoderar-se do desejo de cada um dos que se encontram sob a sua alçada. Algo que pode ir desde uma relação a dois ou m ais pessoas, países, etc.



 

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